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A hipercompensação pela falta de autoestima: um relato pessoal

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A falta de autoestima é uma construção de identidade pautada por aprendizagens associadas a percepções distorcidas da realidade. Quando somos crianças, achamos que o mundo depende de nós. Gira em torno de nós. É normal. A criança é omnipotente e acredita que o mundo externo é influenciado por ela. Se a mãe está triste, a criança sente-se culpada e insuficiente: como é que a minha mãe está triste se eu estou aqui? Quem não se lembra de ter este pensamento quando era miúdo? Acredito que a infância da pessoa com falta de autoestima está marcada por uma série destes equívocos. A criança equivocada cresceu e continua a acreditar que não é boa o suficiente e que, por isso, não é merecedora da felicidade e do elogio do outro. Muitas vezes considera que se trata de bajulação disfarçada de encómio. Essa crença associada ao desmerecimento pode estar associada à falta de espaço na infância para se ser criança: para errar, para ser livre, para espernear, para dar cabo do juízo da mãe...

O mundo pós-normal: um relato pessoal

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A COVID-19 trouxe-nos uma oportunidade única. Vivíamos talvez na Era mais desumana desde a Idade Média. Até janeiro de 2020, o que valia era ter, possuir e em certa medida ostentar. O ter sobrepôs-se ao ser em definitivo algures nos anos 90 e foi ganhando forma tal como uma nuvem de poeira que nos turva a vista. Com o advento das novas tecnologias, nomeadamente das redes sociais, a vida passou justamente a ser isso: parecer. O dia a dia pautou-se pela ausência de sentido. O padrão era comprar, mostrar, acumular e voltar a comprar. Aproveito para introduzir um conceito neste texto, sem querer falar muito nele: o consumismo. Uma das coisas que me venho apercebendo é que comprar funciona como um penso rápido. A métafora serve para descrever aquilo que, na minha opinião, se tornou o processo da compra: um escape imediato da dor e das causas reais do sofrimento humano. Possuir torna-se um atalho para o prazer imediato, que é efémero, mordaz e autodestrutivo. Regressando ao meu te

O luto é para ser vivido: um relato pessoal

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A morte é o mais certo que temos na vida. Nascemos e morremos. É assim desde sempre. Mas por que motivo não o aceitamos? De facto, não estamos nem somos preparados para a partida de quem mais amamos. Ninguém nos ensina a gerir essa dor. Não existe a disciplina Gestão da Perda na escola, porque isso não se explica a ninguém. Não há fórmulas mágicas, como não há no amor. O luto é um trilho cheio de curvas que se assemelha a um labirinto que parece não ter saída. Implica ressignificar a existência e procurar um porto seguro no nosso próprio âmago. Para isso, não há um livro de instruções. É um processo único e individual. Lembro-me da dor física inicial. Há uma dor física no luto. Não te consegues sequer erguer, estar de pé. Sente-se até que não se é suficientemente merecedor de estar de pé. Como é que tu podes estar de pé se quem tu amas morreu? Como é que te atreves a comer se quem tu amas já não respira? O luto traz-nos estes pensamentos. A perda de alguém deixa-nos à deriv