A hipercompensação pela falta de autoestima: um relato pessoal



A falta de autoestima é uma construção de identidade pautada por aprendizagens associadas a percepções distorcidas da realidade.

Quando somos crianças, achamos que o mundo depende de nós. Gira em torno de nós. É normal. A criança é omnipotente e acredita que o mundo externo é influenciado por ela. Se a mãe está triste, a criança sente-se culpada e insuficiente: como é que a minha mãe está triste se eu estou aqui? Quem não se lembra de ter este pensamento quando era miúdo?

Acredito que a infância da pessoa com falta de autoestima está marcada por uma série destes equívocos. A criança equivocada cresceu e continua a acreditar que não é boa o suficiente e que, por isso, não é merecedora da felicidade e do elogio do outro. Muitas vezes considera que se trata de bajulação disfarçada de encómio.

Essa crença associada ao desmerecimento pode estar associada à falta de espaço na infância para se ser criança: para errar, para ser livre, para espernear, para dar cabo do juízo da mãe... A culpa não é da mãe, nem do pai, nem da família, nem da sociedade. Não há culpados. Acredito profundamente que cada um de nós faz o melhor que pode. No entanto, o melhor muitas vezes não é o suficiente.

Na idade adulta, a falta de autoestima leva-nos para uma hipercompensação. Passo a explicar o ponto de vista: ao imaginarmo-nos insuficientes, recorremos a "coisas" externas para nos validarmos, para nos acrescentarmos valor, julgando que isso nos melhorará. E porquê? Porque acreditamos que não somos suficientes. Mas a minha casa não me define, o meu carro não me representa e a minha roupa não sou eu. Eu não sou a minha performance.

A hipercompensação alicerçada no que é externo é a projeção desse equívoco e dessa distorção infantil na vida adulta. E não há mal nenhum nisso. Todos temos uma criança interior. Temos de saber olhar para ela com compaixão.

Com a expansão dessa consciência chegaremos a um lugar melhor. Espero eu.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

O mundo pós-normal: um relato pessoal

Fake News e jornalistas. Hitler e vacinas