O mundo pós-normal: um relato pessoal



A COVID-19 trouxe-nos uma oportunidade única. Vivíamos talvez na Era mais desumana desde a Idade Média.

Até janeiro de 2020, o que valia era ter, possuir e em certa medida ostentar. O ter sobrepôs-se ao ser em definitivo algures nos anos 90 e foi ganhando forma tal como uma nuvem de poeira que nos turva a vista. Com o advento das novas tecnologias, nomeadamente das redes sociais, a vida passou justamente a ser isso: parecer.

O dia a dia pautou-se pela ausência de sentido. O padrão era comprar, mostrar, acumular e voltar a comprar. Aproveito para introduzir um conceito neste texto, sem querer falar muito nele: o consumismo. Uma das coisas que me venho apercebendo é que comprar funciona como um penso rápido. A métafora serve para descrever aquilo que, na minha opinião, se tornou o processo da compra: um escape imediato da dor e das causas reais do sofrimento humano. Possuir torna-se um atalho para o prazer imediato, que é efémero, mordaz e autodestrutivo.

Regressando ao meu tema: é preciso dar um propósito à vida. Depois da pandemia causada pelo novo coronavírus, nada vai ser como dantes. O que vem aí é uma Era determinada pelo essencial. Assim o espero. É uma oportunidade para todos nós.

Embora muitos não nos tenhamos apercebido, vivíamos como gado: um fazia, todos copiávamos. Possuíamos as mesmas calças, aquela t-shirt, a carteira mais cara, o último iPhone e os ténis da moda. A vida era ter o tal carro e a melhor casa. Mesmo nesta fase de transição, as grandes marcas têm tentado manter esse modus vivendi: já vendem a máscara mais trendy para a epidemia. Quem viu a genial Billie Eilish com uma máscara da Gucci nos últimos Grammy Awards dias depois do primeiro caso de SARS-CoV-2 identificado nos Estados Unidos?

O isolamento trouxe-nos uma oportunidade única. É altura de rever rotinas, criar alternativas, renascer e libertarmo-nos do supérfluo. É altura de nos ligarmos ao de mais humano que temos: a generosidade, a bondade e a solidariedade.

Se não houver um processo de renovação, entraremos certamente num processo de adoecimento coletivo. É hora de darmos espaço para a evolução da consciência. É altura de sermos um somatório na vida uns dos outros.

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